Tales Agra
Psicanalista em Brasília

O Psicanalista


Não é fácil ser psicanalista!

A função que a nós é atribuída é a de ser um coadjuvante. Contardo Calligaris, em “Cartas a um Jovem Terapeuta”, recomenda ao jovem terapeuta que tem fortes bases na espera de um retorno de seus pacientes, como presentes na época de fim de ano ou reconhecimento direto de seu trabalho: talvez esta profissão não seja a mais indicada! Precisamos saber retirar nossa “massagem egóica” da relação analítica. O analista ocupa um lugar transferencial. Freud afirma que, se ele usa seu poder de sugestão para algo além do engajamento do paciente ao tratamento, pode evocar uma melhora (todos nós supomos saber o que é melhor ao nosso paciente). Entretanto, este terapeuta deve saber que não está fazendo psicanálise. Com o objetivo de deixar o outro ser, não se deve sugerir coisas demais. Por mais que tenhamos boa intenção em sugerir algo, estamos sugerindo o que nós achamos que é bom para o paciente, e não deixando algo de subjetivo dele existir. Segundo Freud, em “Recomendações ao médico que pratica a psicanálise” (1912): “O médico deve ser opaco ao analisando, e, tal como um espelho, não mostrar senão o que lhe é mostrado” (Obras Completas, Vol 10, pag. 159, Ed. Cia das Letras).

Temos anos de preparação acadêmica e muito estudo independente, além de bons anos em análise (para todo analista que se preze). Mas isso não basta se não tivermos também um gosto pelo ser humano. Conhecer as diferenças é obrigação do analista. Aceitá-las é um exercício diário. E no cerne disso tudo, uma sede de compreensão da psique se faz necessária a todos que queiram excercer a profissão.

Compreensão da psique também envolve compreensão dos processos grupais. A sociedade sustenta o estereótipo do profissional psi muitas vezes como pejorativo. Canso de ver em filmes estereótipos da profissão. Aquele que dorme enquanto o paciente fala, aquele que analisa todo mundo, aquele que só diz que o problema é a mãe. Estereótipo justificável. O analista tem a função de escavar as camadas da resistência, em um trabalho similar ao arqueológico, como diz Freud. Tornar consciente uma resistência por tanto tempo funcional e estruturante deve evocar afetos hostis. Inicialmente são afetos individuais, e posteriormente socializados. Aguentemos. Afinal, poucos neste mundo questionam um ponto de vista dominante.

Tales Agra.

Tales Agra

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